A crise da saúde mental entre crianças e adolescentes tem se intensificado nos últimos anos, com um fator se destacando como vilão silencioso: o uso excessivo de telas. Celulares, computadores, tablets e televisões, quando usados sem controle, estão associados ao aumento significativo de quadros de ansiedade, depressão, insônia e até transtornos de atenção entre os mais jovens.
Pesquisas recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) apontam que o tempo de exposição a telas tem relação direta com prejuízos à saúde mental. De acordo com a OMS, o Brasil é um dos países com maior tempo médio diário de uso de celular: mais de 9 horas por dia, em grande parte consumido por jovens.
Um estudo publicado pela revista científica The Lancet Child & Adolescent Health demonstrou que adolescentes que passam mais de três horas por dia em redes sociais têm 60% mais chance de desenvolver sintomas depressivos. Além disso, a SBP recomenda que crianças até dois anos não sejam expostas a telas e que, até os cinco anos, o uso seja limitado a no máximo uma hora por dia, sempre com supervisão.
A psicóloga clínica Lúcia Ribeiro, especialista em saúde mental infantojuvenil, explica que o uso contínuo de telas interfere no desenvolvimento cerebral. “A criança passa menos tempo brincando, socializando e dormindo. Isso tem impacto direto na aprendizagem, no sono e na capacidade de lidar com frustrações”, afirma.
Segundo ela, os jovens também estão cada vez mais vulneráveis a padrões irreais de beleza e sucesso propagados nas redes, o que contribui para o aumento de casos de baixa autoestima e automutilação.
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O Ministério da Saúde lançou em 2023 o programa “Saúde na Escola”, que inclui ações de conscientização sobre o uso de telas e saúde emocional. Escolas públicas estão sendo orientadas a implementar rodas de conversa, atividades físicas regulares e acompanhamento psicológico.
Os pais também desempenham papel fundamental: limitar o tempo de tela, incentivar atividades físicas e manter diálogo aberto com os filhos são atitudes que ajudam a prevenir o agravamento de quadros mentais. O uso de aplicativos de controle parental e a definição de horários específicos para uso da internet também são recomendados.
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Mudanças bruscas de comportamento, isolamento, queda no rendimento escolar, alterações no sono e na alimentação são sinais de alerta. “Muitos pais demoram a perceber o sofrimento emocional dos filhos, e o acompanhamento psicológico precoce pode evitar que o quadro evolua para algo mais grave”, afirma a psiquiatra infantojuvenil Marina Salles.
A recomendação dos profissionais é buscar atendimento com psicólogos, psiquiatras ou serviços de saúde mental comunitários assim que os sintomas persistirem por mais de duas semanas.
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