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Foto: Reprodução |
A nova pesquisa do Instituto Datafolha revelou uma tendência crescente entre os brasileiros: 59% preferem trabalhar por conta própria, enquanto 39% ainda valorizam o emprego com carteira assinada. Essa mudança reflete uma nova perspectiva sobre o mercado de trabalho, impulsionada por fatores culturais, econômicos e tecnológicos.
Segundo o levantamento, houve um salto de 21% para 31% no número de pessoas que consideram mais importante ganhar mais do que ter um emprego formal com carteira assinada. Em contrapartida, os que priorizam a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), mesmo com um salário menor, caíram de 77% para 67% desde 2022.
A pesquisa foi realizada nos dias 10 e 11 de junho de 2025, ouvindo 2.004 pessoas em 136 municípios de todas as regiões do Brasil, com margem de erro de dois pontos percentuais. O mesmo tipo de levantamento havia sido feito em dezembro de 2022, com metodologia semelhante.
A preferência por trabalhar de forma autônoma aparece em todas as faixas etárias, mas é mais expressiva entre os jovens de 16 a 24 anos (68%). Já entre os brasileiros com 60 anos ou mais, o índice é de 50%, ainda assim superior aos que preferem um emprego formal (45%).
A inclinação por empreender ou atuar como freelancer também varia de acordo com a afinidade política: 66% dos simpatizantes do PL (partido do ex-presidente Jair Bolsonaro) preferem ser autônomos, contra 33% que optariam por um emprego com carteira. No caso dos simpatizantes do PT (partido do atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva), 55% preferem a autonomia e 43% a contratação formal.
Entre os entrevistados que não consideram importante a carteira de trabalho se a remuneração for maior, 85% dizem preferir ser autônomos. Isso mostra um deslocamento no ideal de segurança trabalhista para um modelo baseado na liberdade e na busca por renda superior.
A tendência é mais visível nas regiões Norte e Centro-Oeste, onde apenas 62% ainda valorizam a carteira assinada. No Nordeste, Sudeste e Sul, os índices se mantêm mais altos, com 69%, 67% e 66%, respectivamente.
A pesquisa também apontou que 71% das mulheres ainda consideram mais importante um emprego formal, contra 62% dos homens. Quanto mais velha a faixa etária, maior a valorização do vínculo formal: 68% entre pessoas de 45 a 59 anos e 79% entre os acima de 60.
A renda também influencia na visão sobre a formalidade: entre quem recebe até dois salários mínimos, 72% preferem a CLT. Já entre os que ganham acima de 10 salários, esse número cai para 56%.
A escolaridade segue o mesmo padrão: 75% dos que têm ensino fundamental valorizam o emprego formal, enquanto esse número diminui para 66% no ensino médio e 59% entre os com nível superior.
Entre os aposentados (80%) e funcionários públicos (72%), o trabalho com carteira assinada também é mais valorizado. Quanto à religião, católicos (71%) tendem a preferir o vínculo formal mais que os evangélicos (64%).
O economista Daniel Duque, da FGV/Ibre, explica que a perda de importância da CLT está ligada à popularização do trabalho remoto, ao aumento do uso de plataformas digitais e à atual taxa de desemprego baixa — que, segundo o IBGE, está em 6,6% no trimestre encerrado em abril.
"Os trabalhadores percebem que poderiam ganhar mais, mas isso não acontece devido aos altos encargos trabalhistas", analisa Duque. Ele também observa que a busca por ocupações flexíveis, como os aplicativos de entrega e transporte, está moldando o novo perfil profissional no Brasil.
A pesquisa revelou que 73% dos eleitores do PT acreditam que o melhor é ter um emprego formal, enquanto entre os do PL esse número é de 54%. Entre os que avaliam positivamente o governo Lula, 76% valorizam mais a CLT; já entre os que têm avaliação ruim ou péssima, esse índice é de 57%.
Os dados mostram ainda que o otimismo com o país também impacta essa percepção: 72% dos otimistas valorizam a CLT, contra 70% dos hesitantes e 62% dos pessimistas.
Duque afirma que essa transição no mercado de trabalho tende a se intensificar. “Acredito que vai crescer a pressão política para a redução dos encargos trabalhistas, já que a CLT está pouco atrativa para trabalhadores um pouco mais qualificados que a média”, conclui. Para ele, os jovens estão moldando uma nova dinâmica profissional, mais livre, porém menos protegida.
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